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Bolinhos, Bolinhos...

"No último fim de semana celebraram-se os Santos! E claro, Santos não eram Santos se não rumasse à minha terra, o meu Andreus.

No Andreus, os Santos são sinónimo de Outono, de dias mais curtos e noites mais longas, de acender a lareira pela primeira vez, já de apanha da azeitona.

Os Santos rimam com broas, com tremoços, com romã, e até já com castanhas.


Nos Santos presta-se homenagem a quem já partiu, os nossos "Santinhos" que relembramos sempre com muita saudade e muito amor, e por isso a visita ao cemitério da aldeia é certa! Pois bem, este último fim de semana foi fim de semana de tudo isto, mas também de muita, muita chuva.


Os Santos rimam também com "Os Bolinhos", tradição assim docemente batizada, e na qual, no dia 1 de Novembro, as crianças percorrem as ruas da aldeia de saquinho na mão, batendo e cantando a todas as portas um verso que já atravessou gerações:


Bolinhos, Bolinhos, à porta de todos os Santinhos!


Depois, surgem os sorrisos no rosto das crianças, quando nas mãos dos adultos surgem todo o tipo de guloseimas, e até algum dinheiro, que vão enchendo os seus saquinhos.


Lembro-me, perfeitamente, de pedir os bolinhos na minha infância, e da ansiedade nos dias antes. Lembro-me de que era neste dia que estreávamos roupa ou calçado novo. Íamos em grupo pedir os bolinhos, primeiro eu e a Cláudia, depois juntaram-se a nós as nossas irmãs, a Joana e a Ana. Era um dia mágico, e recordo-o com um sorriso. Por isso, e porque sou, como sabem, apaixonada pelo meu Andreus e pelas tradições mais antigas, e porque acho que as tradições se devem manter, estando esse poder nas nossas mãos, este 1 de Novembro foi dia do Rafa pedir os bolinhos. E não foi sozinho, pois com ele foi o Martim, com os seus 11 meses e alguns dias.

Com os seus saquinhos, percorreram as ruas da aldeia pedindo os bolinhos a cada porta, o Rafa dizendo "Bolinhos, bolinhos, à porta de todos os santinhos!" e o Martim completando com o seu "Da, da, da"!


No acompanhamento que lhes fiz revivi a minha infância, e nos pormenores percebi que a tradição se mantém, pode ter outros contornos mas está tudo lá, querem ver:

  • O Rafa e o Martim foram os dois aos bolinhos, são os meninos da Rua da Eira, tal como as meninas da Rua da Eira o faziam;


  • Os saquinhos para os bolinhos, uma inovação porque antigamente usávamos o saco que tínhamos à mão, o do Rafa foi feito pelas mãos da bisavó Telvina (a homenagem que vos falei antes aos que já partiram), o do Martim foi-lhe oferecido pela avó;

















  • O casaco novo que o Martim vestia (estreávamos alguma roupa nova, lembram-se);

  • As pessoas que encontrámos em cada casa, com um sorriso no rosto, com a "sede" de ouvir a tão famosa frase "Bolinhos, bolinhos...", e com a vontade genuína de dar àquelas crianças.

  • A alegria em cada criança que encontrámos, é por si só motivo para manter a tradição.

Dei-me conta que já existem várias gerações a "dar" os bolinhos. A geração das nossas avós, como foi o caso da Ti Luísa, do Manuel Simão, das avós dos nossos filhos, como foi o caso da Marina (que me recordou da Ti Maria Laura, que nos dias antes dos bolinhos nos vinha trazer o nosso saquinho, mas que neste dia não fazia mais nada a não ser esperar pelas crianças), ou da nossa geração, como foi o caso da Isabel.


Neste 1 de Novembro o Rafa e o Martim pediram os bolinhos, e eu vi pessoas que já não via há muito tempo, passei em ruas que não passava há muito, recordei a minha infância. Sobretudo fiz a minha parte para criar o bichinho de pedir os bolinhos no meu filho. Mas sabem o que me deixa mais contente? É que eu vi muita gente com a mesma intenção que eu, não deixar morrer a tradição.


No final da manhã o Rafa e o Martim vinham cansados, com os saquinhos cheios de doces e guloseimas, e muito felizes. Nós, quem os acompanhou, felizes e com a sensação de dever cumprido.


Queremos, queremos muito, em 2022 que as nossas crianças voltem a pedir os bolinhos e nós a dá-los, mas para isso precisamos que o São Pedro ajude tal como este ano, para que não chova, que a pandemia esteja erradicada de vez, e o governo que ainda terá de ser eleito não se lembre, nem tenha a triste ideia de cancelar este feriado.


Seja de que forma for, que para o ano se volte a ouvir pelas ruas da aldeia "Bolinhos, bolinhos, à porta de todos os santinhos!"


Sara André





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