Dia 5 de Outubro, para além de comemorar a Implantação da República, também celebra um dia bastante especial: o Dia Mundial do Professor!
Eu tenho um pai professor (embora do ensino superior), e também tenho esta veia em mim, de querer saber sempre mais e transmitir os meus conhecimentos, é como um dom. No entanto, achámos que para hoje era super positivo se tivéssemos o testemunho de uma professora dos mais novos, neste caso do ensino básico, que tanto sofreu nestes últimos dois anos com a pandemia.
Agradecemos de coração à professora Tânia Cabaço, pela disponibilidade, pela simpatia, por ser simplesmente como é, e fazer parecer fácil algo que todos nós sabemos ser das mais difíceis profissões/ missões no mundo - ensinar as gerações vindouras.
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VA: Há quantos anos é professora e o que a fez seguir essa profissão?
TC: "Comecei a lecionar no ano 2000 e parece mentira que já lá vão 21 anos... Esta profissão foi a realização de um sonho de menina. Era bem pequena e colocava os meus bonecos sentados no chão enquanto dava aulas no quadro que tinha em casa. Sinto que esta paixão se intensificou com a minha professora do 1.º Ciclo que se tornou um modelo e percebi que era por ali o (meu) caminho. Há coisas que não se explicam, apenas se sentem. E eu sentia que ensinar crianças era aquilo que me iria realizar."
VA: Qual o lado que nós pais, desconhecemos por completo e é tão difícil na vida de professor? Refiro-me à gestão de ensinar sem educar, é possível?
TC: "Penso que há um pensamento generalizado de que ser professor é apenas o que se faz no horário letivo quando estamos com os alunos. No entanto, há muito trabalho para além disso. É uma profissão que exige muito trabalho que não se vê, num mundo cada vez mais burocrático. Ser professor é lidar com variadíssimas personalidades, vivências, diferenças, dificuldades, aptidões... É saber gerir tudo isso e conseguir chegar a cada aluno, vê-lo como único e ajudá-lo a encontrar a sua voz. Em turmas cheias e heterogéneas não é uma tarefa simples.
Outra dificuldade é conseguir corresponder a todas as exigências da sociedade que muitas vezes se demite das suas responsabilidades achando que a resposta está (somente) na escola.
Dizem que a educação deve vir de casa, mas eu acredito que o professor também é um participante ativo na educação do aluno. As crianças passam grande parte do dia nos estabelecimentos de ensino e é muitas vezes lá que aprendem a modelar os comportamentos, a gerir emoções, a adquirir regras de saber estar e ser."
VA: Após tantos anos a lecionar, qual considera ser o lado mais positivo/ gratificante na profissão de professor?
TC: "Considero que o lado mais positivo/gratificante é efetivamente ver a evolução das crianças quer ao nível da aprendizagem quer ao nível do seu crescimento enquanto ser humano. Sentir/ver que os meus alunos se tornam mais conscientes consigo e com o outro, que são empáticos, que respeitam todos os seres, que acreditam em si próprios e nas capacidades que têm, para mim, é o que torna o ensino tão bonito e me dá esperança no futuro."
VA: Qual o momento mais marcante que já viveu ao longo da sua carreira?
TC: "Houve vários momentos que se destacaram na minha carreira e me fizeram refletir acerca dos nossos comportamentos/atitudes na vida uns dos outros. No entanto, há um em particular que me tornou mais consciente da importância das relações humanas. Há uns anos tive um aluno que mostrava alguma agressividade e notava-se dificuldade em lidar com as emoções. Foi uma criança que precisou do seu espaço, de se sentir vista no mundo e de perceber que também podia/merecia receber. Penso que o grupo/turma foi fundamental na evolução do aluno. Um dia, disse-me: "Professora, contigo aprendi a gostar de abraços". A partir daquele momento foi como se algo se desbloqueasse ao nível emocional e aquela criança passou a sentir-se segura para mostrar afeto por todos aqueles de quem gostava, na escola. Para mim, foi uma lição de vida. Percebi que, efetivamente, ser professor é muito mais do que transmitir conteúdos. É um dar e receber. É o entender que, do lado de lá, está também alguém com emoções, dúvidas e angústias que apenas precisa de ser visto/escutado. "
VA: Para terminar, para quem está neste momento a ingressar no ensino superior e a tirar Ensino, ou poderá fazê-lo no futuro, que conselhos pode deixar?
TC: "Sinceramente, a primeira coisa que faria era dar-lhe os parabéns. Parabéns por ingressar numa carreira onde permanecem apenas aqueles que lá estão de coração. É uma carreira que nem sempre é compreendida, a quem muitas vezes apontam o dedo, a quem não é reconhecido o devido valor e nem sempre é fácil lidar com isso. Conselhos: que se mantenha fiel ao seu sonho de ensinar e que acredite que somos capazes de fazer a diferença na vida dos nossos meninos. Essa será a grande gratificação que teremos. É uma profissão que exige muito de nós e nos retira, muitas vezes, tempo para os nossos. É uma profissão que implica investimento nosso a muitos níveis. Mas vai sentir que entrou num grupo onde a maioria encara o ensino como uma missão de vida. Um grupo que, apesar de muitas vezes cansado e incompreendido, continua a dar o seu melhor em prol das crianças e que não desiste."
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Reiteramos o nosso profundo agradecimento à professora Tânia,
pela simpatia, e por ter aceite este convite, um pouco fora da caixa.
Que continue a lecionar com a mesma paixão que tem feito até à data!
Gratas!!
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