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Foto do escritorJoana

Dr.ª Ilda Costa, com a AMI

Neste Blog, muitas são as pessoas que temos tido a oportunidade de conhecer. É incrível como, de algumas relações que fomos estabelecendo, se proporcionaram outras, que tanto nos têm ensinado, e de que tanto nos orgulhamos.


É sobejamente conhecido, por quem se interessa um pouco que seja pelo nosso percurso, a proximidade que temos tido com o Projeto Gratitude. Foi através da Ana Cláudia, do Projeto, que chegámos à fala com o Professor João Coelho, que nos concedeu a entrevista que publicámos aqui. E foi precisamente o Professor João Coelho que me falou na Dr.ª Ilda Costa. Segundo a descrição que fez, logo me deixou curiosa sobre a vida desta pessoa, colaboradora da AMI, e com uma vida dedicada ao voluntariado e à missão desta organização.


Quão inspirador foi contactar a Dr.ª Ilda, e perceber a generosidade com que se mostra disponível a colaborar com quem se mostra curioso com o seu trajeto. Imediatamente aceitou responder às minhas perguntas, e fê-lo de uma forma profundamente dedicada. Muito lhe agradeço o interesse e a simpatia!


Curiosos sobre a Dr.ª Ilda? Conheçam esta mulher verdadeiramente inspiradora.


VA. Há quanto tempo faz parte da AMI?

IC. Ingressei na AMI como voluntária em finais de 1991, tendo passado a elemento efetivo, e a convite da Fundação, em janeiro de 1994. Ou seja, como profissional estou há 28 anos.


VA. Como se cruzou o seu caminho com o desta instituição?

IC. Em primeiro lugar por razões familiares. Mas, a principal razão que fez com que me inscrevesse como voluntária, foi a causa em si. A ajuda humanitária por esse mundo fora. Sendo eu filha de emigrantes, nascida em África, o meu coração estava dividido entre a minha nacionalidade portuguesa e a minha naturalidade africana.


VA. Na sua opinião, qual a maior missão da AMI na nossa sociedade?

IC. Sem dúvida alguma, o apoio aos mais desfavorecidos. Seja em Portugal ou no Mundo, a missão da AMI tem sido grandiosa no combate à pobreza, à fome, no trabalho de combate às desigualdades de todo o tipo; de género, social, económico, político…na esperança de um mundo melhor.


VA. Qual a importância que o voluntariado pode ter nas vidas dos que mais precisam de ajuda?

IC. É de uma importância ímpar. Em primeiro lugar porque quem o faz, faz gratuitamente. Quem o realiza genuinamente, não espera nada em troca. Sabe que o faz por amor a uma causa tão necessária para o bem da sociedade. Para quem o recebe, refiro-me ao apoio direto, também sabe e sente que está a ser apoiado (seja com bens materiais, ajuda emocional, desigualdade social) e de certa forma, acarinhado por alguém que lhe está a dar atenção.


VA. E na sua vida, que papel teve o voluntariado? Pode contar-nos uma experiência que a tenha marcada especialmente?

IC. Não vejo a minha vida realizada se não tiver a vertente do voluntariado, de amor ao outro que não tendo as mesmas possibilidades que eu tive ou tenho, deixe de poder usufruir da minha entrega. Comecei a fazer voluntariado com 16 anos. Desde então, nunca mais parei. Experiências tenho muitas, todas elas de grande relevância para ser a pessoa altruísta que sou. Uma delas foi de ter decidido pedir uma licença sem vencimento para ir para Moçambique dar apoio num orfanato. Estive com crianças que com 12 e 14 anos nunca tinham pegado num lápis e folha de papel. Viviam no interior do país onde nem escolas existem, e que por infelicidade de terem ficado órfãos, foram colocados no orfanato provincial a muitos quilómetros de distância das suas aldeias. Lembro-me perfeitamente como se tivesse sido ontem. Ensinar-lhes as vogais, o abecedário, os números, os desenhos, mexer com os lápis de cor, as plasticinas, todo este mundo encantado, desconhecido para eles até então. E, ao mesmo tempo estar com crianças pequenas, a pedirem colinho, a adormecerem com uma canção de embalar, mas de olho atento nos outros que estavam na sala, uma só e mesma sala para as diferentes faixas etárias. Lidar com as birrinhas, zangas porque queriam o mesmo lápis, o mesmo brinquedo ou caderno de atividades. Éramos dois voluntários. Eu com os meus 55 anos e um jovem japonês com 25. Valeu bem o esforço!!


VA. Assistimos, no momento, a uma crise humanitária como há muito não assistíamos, com a guerra na Ucrânia. O que diria aos jovens, em relação ao papel que podem desempenhar junto de pessoas que se veem afetadas por momentos como estes?

IC. Dir-lhes-ia que ninguém está livre de uma situação igual. Os povos no geral não escolhem guerras, mas no mundo desigual em que vivemos, com as desigualdades político sociais e económicas, em que a ganância fala mais alto do que a razão, não temos como impedir. Impedir não temos como, mas fazer a diferença sim! Quando realizava as sessões nas escolas, havia assuntos de que eu me sentia na obrigação de os alertar. Uma era: Não tenham medo da vida. De tomar decisões, irem atrás dos vossos sonhos e ideais. O medo paralisa e não nos deixa ser nós próprios. Outro tema era sobre o estado do mundo: Vocês jovens, são os obreiros de um futuro que se pretende mais justo, mais igual, mais humano, mais ativo e gritante contra o impossível. Vocês têm capacidade, potencialidade para recriar a sociedade. Uma sociedade mais ativa e menos conformista. Não é por nada que temos cada vez mais jovens ativistas, em vários domínios, desde a proteção ambiental (Aisha Akbar), combate às alterações climáticas (Greta Thunberg), defesa dos direitos humanos (Joy Wathagi), igualdade de género e direito à educação para todos (Malala), segurança pública contra o uso das armas (Emma Gonzalez) etc., a bater com o punho na mesa das Nações Unidas para que os governantes de hoje, gente adulta e formada, arregaçarem as mangas e passem aos atos.


VA. Crê que é dada a devida importância ao voluntariado, e o devido valor ao voluntário?

IC. Hoje as coisas estão muito diferentes. Falar-se de voluntariado já não é um tema desconhecido e/ou de indiferença. O aumento da pobreza, da fome, das desigualdades, das carências nas diversas vertentes, faz com que as pessoas se questionem de como arranjar formas e métodos de diminuir o fosso em que estamos mergulhados. O voluntariado é uma das formas de se acreditar e realizar meios para minorar, não só o sofrimento humano, como todos os outros setores que defendem causas para um mundo melhor. Será utopia? Não! É possível! Quanto ao ser voluntário, por razões óbvias, os nossos políticos viram-se na obrigação de criar uma lei e normas de proteção (com direitos e deveres) para que se valorizasse o voluntário e a pratica em si de voluntariado.


VA. Com a pandemia que enfrentámos, parece-lhe que o número de voluntários aumentou ou diminuiu na nossa sociedade?

IC. É uma questão ambígua, porque, se por um lado algumas pessoas “pararam” com a prática de voluntariado com medo do contágio ou por obrigação devido às restrições sanitárias e de isolamento, ou ainda porque a própria Instituição foi obrigada a não aceitar elementos de fora no seio da mesma, também é verdade que muitos nos procuraram perguntando como ajudar os que se tornaram ainda mais carenciados com a falta de emprego, contas por pagar, diminuição de custos económicos, etc. A minha resposta é: não diminuiu, aumentou.


VA. Explique-nos o que é o Prémio Linka-te aos outros.

IC. É um projeto fantástico que já vai na sua 11ª edição. É lançado anualmente para as escolas (de norte a sul do país, continente e ilhas) e a razão de ter sido criado teve e tem como objetivo, dar a oportunidade aos jovens alunos de poderem ter uma prática de voluntariado. Um voluntariado realizado não só pela segurança em si (sabem como e para quem o fazem), como pela causa no seio da comunidade em que a escola está inserida, assim como o de o poderem fazer mesmo se não tens os 16 anos como exigido por lei. A prática deste voluntariado vai ao encontro do que cada grupo ou turma decide fazer nas diversas áreas. Quer ambiental, combate à pobreza, apoio em centros de dia para idosos, lares de acolhimento temporário, no desporto, defesa dos animais, etc. Estas candidaturas estão sujeitas a critérios, normas e despesas pelos materiais e/ou produtos necessários para o sucesso da ação em si, ou no fornecimento/compra de bens alimentares entre outros. Para tal a Fundação AMI financia 90% do valor necessário, não podendo, no entanto, ultrapassar um montante superior a 2.000 euros. No caso de haver outro projeto com um valor inferior, então sim, aceitaremos o que tiver ultrapassado.


VA. Qual a participação que têm tido?

IC. Muito boa! Desde o seu início que recebemos candidaturas para o projeto. Projeto que é devidamente analisado por 5 júris (Presidente da Fundação AMI, um elemento da área social, um elemento do Ministério da Educação, um professor/a e por mim, como elemento responsável pela divulgação nas escolas).


VA. Como são os projetos que normalmente vos são apresentados?

IC. Como expliquei na pergunta nº 9, desde o apoio a idosos que se encontram em lares ou centros de dia (obtenção de cadeiras de rodas, camas articuladas…), centros de apoio temporário (pinturas no interior do centro, compra de materiais didáticos…), defesa dos animais (com comida, almofadas, produtos de higiene…), área ambiental (limpeza de matas/rios/praias), apoio no combate à pobreza (angariação e compra de produtos alimentares, de limpeza pessoal ou doméstica, de produtos para a casa, fraldas para bebés…), apoio a crianças do tipo ATL nas férias do Natal e Páscoa…


VA. A AMI vai continuar a criar este tipo de iniciativas, e a fomentar o voluntariado entre os jovens?

IC. Sem dúvida alguma! Estamos empenhados em fomentar os jovens para uma cidadania ativa, solidária e de sustentabilidade. Infelizmente pelos tempos que correm, não pode ser uma moda cíclica, mas sim uma prática educacional, cultural e duradoura.


VA. Que conselho quer dar a quem esteja na dúvida entre fazer e não fazer voluntariado?

IC. O meu conselho começa sempre por lhes dizer que para se ser voluntário, tem que haver uma vontade própria, partir de uma vontade explícita e não por obrigação porque o encarregado de educação, familiar ou amigo/a também o faz ou obriga. Felizmente pode-se fazer voluntariado nas mais diversas áreas para o que se gosta de fazer ou tem aptidão para tal. Gosta de desporto, poderá ajudar um pavilhão gimnodesportivo. Gosta de animais, existem muitos animais desprotegidos, abandonados a precisarem de novos donos. Gosta do humanitário, são várias as organizações nesse ramo. Prefere apoiar causas ambientais, também neste campo temos cada vez mais associações que se preocupam com o meio ambiente. A oferta é variadíssima. Eu que o diga, que pratico voluntariado desde os meus 16 anos. Razão que me levou a tomar uma decisão da qual nunca me arrependi. Depois de ter regressado de Moçambique (2012) pedi à entidade empregadora, a Fundação AMI, que aceitasse eu não trabalhar um dia por semana, ou seja prescindi de uma percentagem do meu salário, para continuar e ter mais tempo para fazer voluntariado. Foi aceite! Desde então colaboro voluntariamente num dos Equipamentos Sociais da AMI à 6º feira de manhã, dando apoio a idosos com atividades de animação social, e à tarde numa outra Instituição (a que me levou até Moçambique), realizando um trabalho administrativo e de logística.


Obrigada pela inspiração, Dr.ª Ilda!

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