Falo-vos hoje de um Projeto, um Sonho e um Conceito muito original! Confesso-vos que não conhecia, até surgir no meu Facebook. Acabei por ter curiosidade, e gostei muito da ideia. No Verão, acompanhei pelas redes sociais o momento mais negativo que o Histórias à Mesa passou. Tinham tudo para ter desistido. Porquê? Desistiram mesmo?
Ninguém melhor do que quem criou este projeto para esclarecer as nossas dúvidas, através da entrevista que gentilmente me concedeu. Muito agradeço pela confiança! O Viver Alternativo estará sempre disponível para o que o Histórias à Mesa precisar, no que pudermos ajudar. A tradições devem ser preservadas, e quem luta por isso, deve ser apoiado. Devemos estar sempre disponíveis para quem resiste apesar das dificuldades!
VA. Como surgiu a ideia de criar um conceito como o do Histórias à Mesa?
HM. O conceito das "Histórias à Mesa" surgiu das recordações de momentos em família, comida no forno, pão quente, manteiga a derreter e a alegria que uma criança mal consegue explicar. Viver momentos à mesa que nos faz viajar pelas memórias e partilhar com quem estar ao redor. Eu também escrevo algumas histórias na página, pois as minhas não são muito diferentes de quem morou no campo. Faz parte das nossas histórias portuguesas.
VA. Quando tomaram a decisão de desenvolver o que tinham anteriormente sonhado?
HM. Inicialmente era para desenvolver o turismo regional, que tanto precisa de dinamização. Já desenvolvi vários projetos regionais e na Irlanda. Com 26 anos de experiência no turismo, é mais fácil saber alinhar o sonho para a realidade. Como os moinhos estavam meio abandonados, foi desafiar os meus primos (proprietários) a voltar a abrir. Sem acreditar muito no projeto apresentado, deixaram-me desenvolver. Começou então em Maio de 2018.
VA. O espaço utilizado já era vosso, ou adquiriram-no precisamente para desenvolver este projeto?
HM. Eu posso trabalhar em vários espaços, mas os Moinhos vivos de Palmela foi onde comecei este projeto. É propriedade dos meus primos.
VA. No que consiste o Histórias à Mesa?
HM. O objetivo da histórias á Mesa, é recordar e fazer recordar a gastronomia tradicional. De preferência em locais antigos. Pode acontecer numa adega, perto de um forno, no meio de uma vinha, apanhar azeitonas, fazer workshops de pão, biscoitos, junto de tanques de lavar roupa à antiga. Podemos dizer que fazemos uma recriação histórica, melhor que ouvir uma história, é vir viver uma.
VA. Antes do que aconteceu no Verão passado, de que falaremos mais à frente, como estava a correr o vosso projeto?
HM. Após o levantamento das restrições do Covid-19, começou a correr bem. Já tinha o mês todo agendado com grandes grupos, turistas estrangeiros para workshop de pão e a preparar a agenda para workshop de escolas em setembro. Ainda em recuperação económica, a preparar financeiro para avançar em breve para outro espaço na Quinta do Anjo.
VA. Expliquem-nos, então, que acontecimento ameaçou abalar o Histórias à Mesa, neste Verão de 2022.
HM. A 13 de julho de 2022, enquanto estava a decorrer um workshop de pão com uma escola de Setúbal , vimos fumo na baixa de Palmela e o início do fogo. Mas raramente o fogo sai da baixa de Palmela, uma zona que de vez em quando metem fogo. Mas o vento estava sul, algo muito raro na nossa zona. Em 2 horas o fogo chegou aos moinhos. Sem água, sem boca de incêndio, sem apoio dos bombeiros. Foi desespero a ver arder…
VA. O que pensaram quando perceberam o que tinha acontecido?
HM. Se vou voltar para o estrangeiro para trabalhar, ou tentar voltar o projeto sem dinheiro, sem espaço, sem os materiais que arderam.
VA. Decidiram desistir, ou recomeçar?
HM. É necessário recomeçar, porque o trabalho era mais didático, puxando pelo turismo. Mas os apoios financeiros são poucos e as dificuldades que nos obrigam são muitas. O que ardeu foram coisas, nós e os burros ficamos bem, podemos voltar para outro lugar e fazer mais. Histórias à Mesa, já não vai voltar a ser a mesma coisa, mas vai ser algo que eu gosto de fazer (hobby).
VA. Como está a correr agora?
HM. Estou num espaço na baixa de Palmela onde tem um forno, mas ainda faltam muitas obras. No quintal dos meus pais tenho um forno a lenha onde aprendi a fazer pão, é onde faço os produtos para vender em feiras e mercadinhos. E vou continuando assim, alguns dias com mais vontade de desistir que outros. Já corri vários municípios, apresentei projetos de desenvolvimento turístico. Alguns foram roubados, para entregar aos amigos para fazer e eu que tive o trabalho fico sem fazer nada. Depois sou descartado como fazem aos cães abandonados. É assim que temos o nosso país. Monumentos a cair, locais com falta de vida… Acham que é por falta de vontade? É porque não nos deixam trabalhar…
VA. Quais os planos para o futuro?
HM. Festivais de música no Downtown Palmela. Um festival de comida no Downtown Palmela. Recuperar uma Adega na Quinta do Anjo, para grupos de jantares e workshop de escolas. Eu pretendo ainda com teimosia, desenvolver o turismo na margem sul e depois a Nível nacional. Enquanto houver edifícios históricos abandonados, há uma oportunidade única. Os planos têm de ser sempre adaptados às situações. É um jogo infinito, só termina quando se morre.
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