Serão poucas ou nenhumas as pessoas que não o conhecem. É habitual vê-lo, de máquina fotográfica em punho, nas mais variadas ocasiões, a fazer o que sabe melhor: fotografar. Versátil na sua arte, são muitas as áreas em que dá a conhecer o talento que o acompanha, da minha perspetiva, quase desde sempre. Afinal, há quanto tempo o vemos a captar os momentos mais importantes do concelho de Sardoal?
Convidei-o para responder a algumas perguntas que, acredito, muitos de nós teriam curiosidade em conhecer a resposta. Amavelmente, aceitou! Como se fosse pouco, ainda cedeu algumas das suas fotos, com que ilustro este artigo. Agradeço muito a disponibilidade. Dele, e dos interessados em saber um pouco mais, sobre o Paulo Sousa.
VA. É natural do Sardoal? Qual a sua ligação à vila?
PS. Sim, sou natural de Sardoal, nasci em 1964, tenho três irmãos, um é natural de Lisboa e os outros nasceram também no Sardoal. O meu pai era de Lisboa e a minha mãe de Mondim da Beira (Tarouca).
VA. Como é que a fotografia surgiu na sua vida? Em criança já se interessava por esta atividade?
PS. O interesse pela fotografia surgiu em 1986, tinha eu 22 anos. Fui frequentar um curso de dois anos de Agentes de Desenvolvimento Sociocultural, em Santarém, curso esse que tinha um representante de cada concelho do distrito. Eu fui pelo Sardoal. Nessa altura as Câmaras Municipais ainda não tinham recursos humanos ligados a esta área da cultura e deste curso saíram inúmeras pessoas que foram trabalhar para as suas Câmaras, já a desenvolver projetos nesta área.
O curso foi composto por vários módulos, entre os quais, o de Audiovisuais. Foi aqui que tomei contato com a fotografia, desde a captação de imagem à revelação da pelicula e consequente ampliação na câmara escura. A parir daí nunca mais parei. Registo ainda a curiosidade de, nesse módulo, todos os 22 formandos terem de fazer um projeto para um diaporama (fotografar com slides ou diapositivos e usar dois projetores de slides, uma unidade de fundidos e ainda uma banda sonora) e o meu sobre o Sardoal e o do colega de Almeirim, terem sido “eleitos” por todos, para ser exibido numa reunião com todos os presidentes de câmara do distrito, em forma de acompanhamento do trabalho que estava a ser desenvolvido.
VA. Como em todas as artes, trata-se de uma profissão difícil e incerta. Alguma vez isto foi um entrave?
PS. Sim, vivendo apenas da fotografia era muito arriscado. Mas na altura estava numa fase de descoberta e nunca pensei em ser um fotografo profissional e viver disso, pelo que integrei os quadros da autarquia a trabalhar na área da cultura, onde também ia assumindo pouco a pouco, tudo o que se pudesse relacionar com a fotografia, quer para suporte de informação, de registo ou mesmo para cartazes e folhetos turísticos que se iam fazendo.
VA. Sempre trabalhou neste concelho?
PS. Não. Interrompi a minha atividade na Autarquia cerca de um ano, em 1983, e fui trabalhar para uma loja de fotografia em Abrantes, o “Foto Durão”. Foi lá que aprendi muitas coisas na prática como fazer retratos, reportagens, revelar num minilab e sobretudo, sobre a cor e a sua composição e equilíbrio, tarefa fundamentar para que as fotografias saíssem com as cores corretas.
Mais tarde voltei a sair por cerca de um ano e meio para ministrar um curso de formação profissional de Operador de Fotografia”, no IEFP de Tomar, trabalho que foi também para mim, uma aprendizagem.
VA. O que mais o fascina em fotografar o Sardoal, as suas gentes e tradições?
PS. Em primeiro lugar porque estou cá no Sardoal e isso permite ir descobrindo novas abordagens e novas formas de ver a mesma coisa e os mesmos locais, funciona como desafio permanente e depois porque tenho a certeza de estar a contribuir para a perpetuação das nossas gentes, das nossas tradições, dos nossos hábitos, isto sobretudo para que daqui a muitos anos alguém possa ter condições e matéria para fazer estudos mais aprofundados sobre o Sardoal.
VA. Fale-nos um pouco sobre a exposição que apresentou recentemente. Há quanto tempo a prepara?
PS. A exposição Paixão e Luz é apenas uma pequena parte de um espólio de quando eu comecei a fotografar o Sardoal. Remete para o Sardoal dos anos 80 e 90 do século passado, e diz respeito à Procissão do Senhor da Misericórdia ou dos Fogaréus, onde grande parte dos intervenientes já não estão entre nós, mas que fazem parte da memória coletiva do Sardoal.
Lembro que nessa altura não havia internet (nem emails) e muito menos telemóveis e/ou smartphones. Estas fotografias constituem assim, as primeiras fotografias de que há memória desta manifestação religiosa, tal como se fazia, sem o uso de flash nem luz artificial. Está lá o ambiente natural de tudo.
Durante a pandemia, digitalizei muitos negativos, entre os quais estes. Surgiu o convite para fazer uma exposição durante a Semana Santa e aproveitei e comecei a mostrar este espólio.
VA. Qual a importância, para si, de ter conseguido concretizar este projeto?
PS. É muito importante, isto andava por aqui à espera de melhores dias, mas assim deu-se início à revelação de parte do meu espólio, que penso não ficar por aqui. Também foi importante para o Sardoal poder recordar figuras típicas já caídas no esquecimento e que tiveram a sua importância na comunidade local.
VA. Que pretensões tem para o futuro, no que à fotografia diz respeito?
PS. Pois, não sei. Continuar a fotografar parece que vai ser, pode é haver a incursão em outros tipos de projetos fotográficas que não apenas o documental, mas isso são processos naturais que virão na altura certa e quando tiverem de vir.
VA. Para terminar, em algum momento se arrependeu de ter enveredado por esta carreira?
PS. Não, a fotografia, desde que a descobri, viveu sempre comigo, sou eu que estou ali, é a minha visão, a minha estética, os meus valores, a minha sensibilidade, a minha cultura. Depois, e em termos de carreira, vou tentando estar sempre atualizado quer tecnologicamente quer nas várias correntes artísticas que vão surgindo, quer em entrar em desafios que me vão sendo colocados a nível profissional.
Fotos gentilmente cedidas por Paulo Sousa
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